Presunção de inocência e a doutrina da prova além da dúvida razoável na jurisdição constitucional

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22197/rbdpp.v8i1.685

Palavras-chave:

presunção de inocência, prova “para além da dúvida razoável”, valoração integral do conjunto probatório, dever de motivação, jurisdição constitucional

Resumo

Em razão da centralidade do princípio da presunção de inocência nos sistemas constitucionais democráticos, diversostribunais constitucionais têm buscado, nos mais diversos quadrantes e a partir do recurso a diferentes metodologias, desenvolver parâmetros que tornem eficaz a dimensão do princípio ligada à exigência de que a condenação criminal esteja fundada em certo nível de certeza probatória. Para que o princípio da presunção de inocência desempenhe sua função de garantia, alguns tribunais constitucionais desenvolveram o standard da prova “para além da dúvida razoável”. A jurisprudência constitucional estrangeira deu passos significativos na superação do uso meramente retórico da categoria da prova “para além da dúvida razoável”, atribuindo-lhe significado normativo mais denso e operativo. Alguns tribunais constitucionais – e.g. Tribunal Constitucional da Espanha e Corte Constitucional da Colômbia – têm procurado tutelar essa dimensão do princípio da presunção de inocência por meio da exigência, por um lado, de comprovação da culpa para além de qualquer dúvida razoável e, por outro, da obrigatoriedade de valoração integral do conjunto probatório e de motivação lógica e racional acerca desses elementos probatórios.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Ademar Borges de Sousa Filho, Instituto Brasileiro de Ensino, Pesquisa e Desenvolvimento – Brasília/DF

    Doutor em Direito Público pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Mestre em Direito Constitucional pela Universidade Federal Fluminense. Professor de Direito Constitucional do Instituto Brasileiro de Ensino, Pesquisa e Desenvolvimento – IDP/DF.

Referências

ACCATINO, Daniela. Certezas, dudas y propuestas en torno al estándar de la prueba penal. Revista de Derecho de la Pontificia Universidad Católica de Valparaíso, Valparaíso, n. 37, 2011, p. 483-511. https://doi.org/10.4067/s0718-68512011000200012

ALBUQUERQUE, Paulo Pinto de. Comentário do Código de Processo Penal à luz da Constituição da República e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem. 4ª ed. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2011.

ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. São Paulo: Malheiros, 2008.

BADARÓ, Gustavo Henrique. Ônus da prova no processo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.

BELLOCH JULBE, Juan Alberto. “La prueba indiciaria” en la sentencia penal. Madri: Consejo General del Poder Judicial, 1992.

BOLINA, Helena Magalhães. Razão de ser, significado e consequências do princípio da presunção da inocência (art. 32, nº 2, da CRP). Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, v. 70, 1994.

BOTELHO, Catarina Santos. Tutela Directa dos Direitos Fundamentais: Avanços e Recuos na Dinâmica Garantística das Justiças Constitucional, Administrativa e Internacional. Coimbra: Almedina, 2010.

BRANDÃO, Rodrigo. Supremacia Judicial v. Diálogos Constitucionais: a quem cabe a última palavra sobre o sentido da Constituição? Lumen Iuris: Rio de Janeiro, 2011.

CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 1998.

CENTOZE, Francesco. La Corte d’assise di fronte al ‘ragionevole dubbio’. Rivista Italiana di Diritto e Procedura Penale, v. 46, n° 1/2, 2003.

CORDERO, Franco. Tre studi sulle prove penali. Milão: Giuffrè, 1963.

DELLA TORRE, Jacopo. Il lungo cammino della giurisprudenza italiana sull’“oltre ogni ragionevole dubbio”. Disponível em: <https://www.penalecontemporaneo.it/upload/1403195064DELLA%20TORRE_2014.pdf>. Acesso em: 18 mar. 2022.

FACHIN, Luiz Edson. Presunção de inocência e persecução penal: conformação constitucional pelo Supremo Tribunal Federal. In: ALVIM, Eduardo Arruda; ALVIM, José Manoel de; GALDINO, Flavio (coords.). Uma vida dedicada ao direito: estudos em homenagem a Roberto Rosas. Rio de Janeiro: GZ, 2020, p. 461-472.

FERRAJOLI, Luigi. Derecho y Razón. Teoría del garantismo penal. Madri: Editorial Trotta, 2000.

FERRER BELTRÁN, Jordi. La valutazione razionale della prova. Milão: Giuffrè, 2012.

FERRER BELTRÁN, Jordi. Los estándares de prueba en el proceso penal español. Cuadernos electrónicos de filosofía del derecho, nº 15, 2007.

FERRER BELTRÁN, Jordi. Uma concepção minimalista e garantista de presunção de inocência. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, v. 4, n. 1, jan./abr. 2018. https://doi.org/10.22197/rbdpp.v4i1.131

FLETCHER, George P. Conceptos básicos de Derecho Penal. Valência: Ed. Tirant lo Blanch, 1997.

GIACOMOLLI, Nereu José. O devido processo penal: abordagem conforme a Constituição Federal e o Pacto de São José da Costa Rica. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2016.

HESSE, Konrad. Elementos de Direito Constitucional da República Federal da Alemanha. Trad. Luís Afonso Heck. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1998.

IGARTUA SALAVERRÍA, Juan. Motivación de las sentencias, presunción de inocencia, in dubio pro reo. In: Anuario de derechos humanos, núm. 2, 2001, pp. 459-479.

IGARTUA SALAVERRÍA, Juan. La Motivación de Las Sentencias, Imperativo Constitucional. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 2003.

LANGER, Maximo. From Legal Transplants to Legal Translations: The Globalization of Plea Bargaining and the Americanization Thesis in Criminal Procedure. Harvard International Law Journal, v. 45, n. 1, p. 1-64, 2004.

LAUDAN, Larry. Por qué un estándar de prueba subjetivo y ambíguo no es un estándar. Doxa, n. 28, 2005. https://doi.org/10.14198/DOXA2005.28.08

LAUDAN, Larry. Truth, Error, and Criminal Law: an essay in legal epistemology. New York: Cambridge University Press, 2006.

LOPES, José António Mouraz. A fundamentação da sentença no sistema penal português: legitimar, diferenciar, simplificar. Coimbra: Edições Almedina, 2019.

FERNÁNDEZ LÓPEZ, Mercedes. Presunción de inocencia y carga de la prueba en el proceso penal. Tese de Doutorado em Direito – Facultad de Derecho, Universidad de Alicante, 2004.

MARINONI, Luiz Guilherme. O direito à tutela jurisdicional efetiva na perspectiva da teoria dos direitos fundamentais. Revista Peruana de Derecho Procesal, n. 07, 2004.

MENDES, Gilmar Ferreira. Os direitos fundamentais e seus múltiplos significados na ordem constitucional. Revista Jurídica Virtual, v. 2, n. 13, jun. 1999.

NARDELLI, Marcella A. M.; MASCARENHAS, Fabiana A. Os standards probatórios como métrica da verdade: em busca de parâmetros objetivos para a racionalização das decisões sobre os fatos. Revista del Instituto Colombiano de Derecho Procesal, n. 44, jul.-dez. 2016, p. 45-66. https://doi.org/10.32853/01232479.v44.n44.2016.425

NIEVA FENOLL, Jordi. La razón de ser de la presunción de inocencia. Indret. Barcelona, v.1, 2016, p. 10. Disponível em: <https://indret.com/wp-content/uploads/2018/05/1203_es.pdf>. Acesso em: 6 mar. 2022.

O’DONNELL, Daniel. Derecho Internacional de los Derechos Humanos: normativa, jurisprudencia y doctrina de los sistemas universal e interamericano. Bogotá: Oficina en Colombia del Alto Comisionado de la Naciones Unidas para Colombia, 2007.

PALMA. Andrea Galhardo. Breve análise comparativa dos modelos de valoração e constatação da prova penal – standards probatórios – no Brasil, nos EUA e na Itália: crítica à regra beyond any reasonable doubt ou oltre ragionevole dubbio (além da dúvida razoável). In: FILIPPO, Thiago Baldani Gomes de; ONODERA, Marcus Vinicius Kiyoshi (coords.). Brasil e EUA: temas de direito comparado. São Paulo: Escola Paulista da Magistratura, 2017, p. 287-338.

REGO, Carlos Lopes do. Os Recursos de Fiscalização Concreta na Lei e na Jurisprudência do Tribunal Constitucional. Coimbra: Almedina, 2010.

RUIZ, Juan Cámara. La impugnación de las resoluciones penales por falta de motivación. Santiago de Compostela: Andavira Editora, 2018.

SILVA, Virgílio Afonso da. O conteúdo essencial dos direitos fundamentais e a eficácia das normas constitucionais. Revista de Direito de Estado, n. 4, 2006.

SOUZA NETO, Cláudio Pereira de; SARMENTO, Daniel. Direito Constitucional: Teoria, História e Métodos de Trabalho. Belo Horizonte: Fórum, 2012.

TARUFFO, Michele. Simplemente la verdad: El juez y la construcción de los hechos. Madrid: Marcial Pons, 2010.

TARUFFO, Michelle. A prova. São Paulo: Marcial Pons, 2014.

UBERTIS, Giulio. La Prova Penale: Profili Giuridici ed Epistemologici. Torino: UTET Librería, 1999.

VASCONCELLOS, Vinicius Gomes de. A prova no processo penal: a importância da valoração do lastro probatório e de seu controle por meio recursal. Revista Eletrônica do Curso de Direito da UFSM, v. 13, n. 2, p. 695–721, 2018. https://doi.org/10.5902/1981369430012

VASCONCELLOS, Vinicius Gomes de. Standard probatório para condenação e dúvida razoável no processo penal: análise das possíveis contribuições ao ordenamento brasileiro. Revista Direito GV, v. 16, n. 2, 2020. https://doi.org/10.1590/2317-6172201961

WHITMAN, James Q. The origins of reasonable doubt. New Haven: Yale Press, 2008.

Downloads

Publicado

29.04.2022

Edição

Seção

DOSSIÊ: O papel dos tribunais constitucionais na definição do devido proc. penal

Como Citar

Borges de Sousa Filho, A. (2022). Presunção de inocência e a doutrina da prova além da dúvida razoável na jurisdição constitucional. Revista Brasileira De Direito Processual Penal, 8(1). https://doi.org/10.22197/rbdpp.v8i1.685