Reconhecimento pessoal e seletividade penal: uma análise acerca da necessidade de seguir o rito previsto no Código de Processo Penal

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22197/rbdpp.v11i1.1125

Palavras-chave:

reconhecimento pessoal; seletividade penal; vulnerabilidade; racismo; etiquetamento social.

Resumo

Este estudo visou analisar os reflexos do reconhecimento pessoal realizado de maneira inadequada em um contexto de seletividade penal e racismo. Assim, buscou-se responder: quais as consequências e os perfis de indivíduos vítimas de reconhecimento pessoal errôneo? Adotou-se o método dedutivo, por meio de pesquisa bibliográfica e documental, fundamentada em legislações, artigos acadêmicos e relatórios do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Conselho Nacional das Defensoras e Defensores Públicos-Gerais (Condege) e Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPE/RJ). O referencial teórico foi estruturado em quatro seções, de modo a discorrer sobre: a) o rito do reconhecimento pessoal e seus fatores comprometedores; b) a seletividade penal e seus impactos em indivíduos vulnerabilizados pelas estruturas de poder que controlam o direito penal; c) a influência do racismo estrutural na política criminal adotada no Brasil; d) a análise dos dados do CNJ, Condege e DPE/RJ relativos a reconhecimentos pessoais desatentos às diretrizes legais. Concluiu-se que o reconhecimento pessoal, sobretudo quando desatento ao rito legal, é uma prova suscetível a falhas, agravadas pela seletividade penal, atingindo de forma desproporcional pessoas negras, vítimas de um histórico discriminatório que ainda hoje permeia a sociedade e influencia a política criminal adotada no país.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Luis Alberto Oliveira da Costa, Universidade Ceuma – São Luís, Maranhão

    Mestrando em Direito e Afirmações de Vulneráveis pela Universidade CEUMA.  Pós-graduando em Direitos Humanos pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).

  • Thiago Allisson Cardoso de Jesus, Universidade Ceuma – São Luís, Maranhão

    Pós-doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais da Escola de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS). Pós-doutor em Desigualdades Globais e Justiça Social: diálogos Sul e Norte, pela Faculdade de Direito da UnB em parceria com a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais. Doutor em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Maranhão. Doutorando em Estado de Derecho Y Gobernanza Global pela Universidad del Salamanca/Espanha. Bolsista Produtividade Fapema (Ciclo 2024-2025). Professor Permanente e Coordenador Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Direito e Afirmação de Vulneráveis (Mestrado Profissional em Direito) da Universidade Ceuma. Professor Adjunto I do Curso de Direito e Relações Intern da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).

Referências

ALVES, Luize Cristina de Oliveira. O reconhecimento pessoal e sua previsão no art. 226 do CPP: questões sobre vigência, validade, efetividade e justiça. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 19, n. 1, p. 228-237, 2021. http://periodicos.unincor.br/index.php/revistaunincor/article/view/6389

ALVES, Luize Cristina de Oliveira. Reconhecimento pessoal e verdade no processo penal: uma discussão à luz do garantismo de Luigi Ferrajoli. 2022. Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade Federal do Pará, Belém, 2022.

ANDRADE, Flávio da Silva. A tomada da decisão judicial criminal à luz da psicologia: heurísticas e vieses cognitivos. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 507-540, 2019. https://doi.org/10.22197/rbdpp.v5i1.172

ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A colonização da justiça pela justiça penal: potencialidades e limites do Judiciário na era da globalização neoliberal. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 9, n. 1, p. 11-14, 2006. https://doi.org/10.1590/S1414-49802006000100001

ARAÚJO, Fernanda Carolina de. A teoria criminológica do labelling approach e as medidas socioeducativas. 2010. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.

BAGGIO, Roberta Camineiro; RESADORI, Alice Hertzog; GONÇALVES, Vanessa Chiari. Raça e biopolítica na América Latina: os limites do direito penal no enfrentamento ao racismo estrutural. Revista Direito e Práxis, Rio de Janeiro, v. 10, n. 3, p. 1834-1862, 2019. https://doi.org/10.1590/2179-8966/2018/34237

BARATTA, Alessandro. Direitos humanos: entre a violência estrutural e a violência penal. Trad. Ana Lucia Sabadelli. Fascículos de Ciências Penais: tutela penal dos direitos humanos, Porto Alegre, v. 6, n. 2, p. 44-61, 1993.

BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução à sociologia do direito penal. 6. ed. Trad. Juarez Cirino dos Santos. Rio de Janeiro: Revan, 2016.

BARROS, Bruna Gonçalves Loureiro de Andrade. Culpabilidade: análise crítica do conceito com base na ideia de vulnerabilidade. 2017. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.

BARROS, Geová da Silva. Filtragem racial: a cor na seleção do suspeito. Revista Brasileira de Segurança Pública, São Paulo, v. 2, n. 1, p. 134-155, 2008. https://doi.org/10.31060/rbsp.2008.v2.n1.31

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas. Relatório do Grupo de Trabalho “Reconhecimento de Pessoas”. Brasília, DF: CNJ, 2022.

BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Relatório de informações penais: segundo semestre de 2023. Brasília, DF: MJSP, 2023.

BRETAS, Marcos Luiz. O crime na historiografia brasileira: uma revisão na pesquisa recente. Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 32, p. 49-61, 1991. https://bibanpocs.emnuvens.com.br/revista/article/view/124

BRETAS, Marcos Luiz. Observações sobre a falência dos modelos policiais. Tempo Social, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 79-94, 1997. https://www.revistas.usp.br/ts/article/view/86441

CARVALHO, Roberta dos Santos Pereira de; CARVALHO JÚNIOR, Natal dos Reis. Seletividade penal. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PROCESSO COLETIVO E CIDADANIA, 9., 2021, Ribeirão Preto. Anais eletrônicos […]. Ribeirão Preto: Universidade de Ribeirão Preto, 2022. p. 471-495. https://revistas.unaerp.br/cbpcc/article/view/2531

COLÉGIO NACIONAL DOS DEFENSORES PÚBLICOS GERAIS. Relatório sobre reconhecimento fotográfico em sede policial: análise dos casos encaminhados pelos defensores públicos. Rio de Janeiro: DPE/RJ; Condege, 2020.

CORDAZZO, Karine; MENDES, Cintia Rocha. Os riscos e falhas no reconhecimento pessoal do acusado. Revista Eletrônica da Faculdade de Direito de Franca, Franca, v. 15, n. 2, p. 247-268, 2020. https://www.revista.direitofranca.br/index.php/refdf/article/view/1040

FRANÇA, Rosilene Marques Sobrinho de. Encarceramento e racismo estrutural na América Latina e Brasil. Argumentum, Vitória, v. 14, n. 3, p. 119-136, 2022. https://doi.org/10.47456/argumentum.v14i3.38514

FERNANDES, Sérgio Ricardo Aquino; PELLENZ, Mayara; BASTIANI, Ana Cristina Bacega de. Fraternidade como alternativa à seletividade do direito penal. Sequência Estudos Jurídicos e Políticos, Florianópolis, v. 38, n. 76, p. 155-182, 2017. https://doi.org/10.5007/2177-7055.2017v38n76p155

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário brasileiro de segurança pública. 17. ed. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2023.

FUZIGER, Rodrigo José. Ao arbítrio de Ananke: por uma revisão do conceito de autodeterminação no direito penal. 2018. Tese (Doutorado em Direito Penal) – Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.

GUARAGNI, Fábio André; TANAKA, Carolline Mayumi. Falsas memórias no processo penal: a incidência de falsas memórias na prova testemunhal. Revista Jurídica Unicuritiba, Curitiba, v. 2, n. 59, p. 181-209, 2020. https://doi.org/10.21902/revistajur.2316-753x.v2i59.4086

LOPES, Luciano Santos. A contribuição de Alessandro Baratta para a criminologia crítica. De Jure: revista jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, n. 11, p. 69-80, 2008. https://bdjur.stj.jus.br/items/1f5101d3-5233-4a10-855f-50443ae04e0d

LOURENÇO, Luiz Claudio; VITENA, Gabrielle Simões Lima; SILVA, Marina de Macedo. Prisão provisória, racismo e seletividade penal: uma discussão a partir dos prontuários de uma unidade prisional. Revista Brasileira de Segurança Pública, São Paulo, v. 16, n. 2, p. 220-239, 2022. https://doi.org/10.31060/rbsp.2022.v16.n2.1367

MAGALHÃES, Marina Trindade. O reconhecimento pessoal e a psicologia judiciária: falibilidade do testemunho como reforço do etiquetamento e violação ao in dubio pro reo. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 6, n. 3, p. 1699-1731, 2020. https://doi.org/10.22197/rbdpp.v6i3.339

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017.

MARTINI, André; ROCHA, Andréa Pires. Racismo estrutural, violações dos direitos humanos e seletividade: determinantes do sistema penal brasileiro. Captura Críptica: direito, política, atualidade, Florianópolis, v. 9, n. 1, p. 56-74, 2020. https://ojs.sites.ufsc.br/index.php/capturacriptica/article/view/4564

MARTINS, Alisson Thales Moura. Racismo estrutural e suas congruências históricas. Boletim IBCCRIM, São Paulo, v. 31, n. 363, p. 13-16, 2023. https://publicacoes.ibccrim.org.br/index.php/boletim_1993/article/view/1571

MATIDA, Janaina; CECCONELLO, William Weber. Reconhecimento fotográfico e presunção de inocência. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 409-440, 2021. https://doi.org/10.22197/rbdpp.v7i1.506

MEDEIROS, Fabiana Irala de. A construção dialética de uma criminologia crítica para as fronteiras latino-americanas. Novum Jus, Caracas, v. 15, n. 1, p. 117-132, 2021. https://doi.org/10.14718/novumjus.2021.15.1.6

OLIVEIRA, Gabrielle Paula de; MACHADO, Giovanny Simon. Autocracia burguesa, racismo e encarceramento à luz do pensamento social brasileiro. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 27, p. e95242, 2024. https://doi.org/10.1590/1982-0259.2024.e95242

OLIVEIRA, Helena Mendes; ALBUQUERQUE, Pedro; SARAIVA, Magda. O estudo das falsas memórias: reflexão histórica. Trends in Psychology, Ribeirão Preto, v. 26, n. 4, p. 1763-1773, 2018. https://doi.org/10.9788/TP2018.4-03Pt

RIBEIRO, Ingrid Medeiros Lustosa Diniz; FRANÇA, Rosilene Marques Sobrinho de. Violência, seletividade penal e encarceramento no Brasil. In: CONGRESSO INTERNACIONAL CIÊNCIA E SOCIEDADE, 1., 2023, Campinas. Anais eletrônicos […]. Campinas: Galoá, 2023. p. 1-12. https://proceedings.science/cics-2023/trabalhos/violencia-seletividade-penal-e-encarceramento-no-brasil-2?lang=pt-br

RIO DE JANEIRO (Estado). Defensoria Pública Geral. Diretoria de Estudos e Pesquisas de Acesso à Justiça. Relatório sobre reconhecimento fotográfico em sede policial e absolvições: análise de casos encaminhados pelos defensores públicos do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: DPE/RJ, 2020.

ROCHA, Andréa Pires; LIMA, Rita de Cássia Cavalcante; FERRUGEM, Daniela. Autoritarismo e guerra às drogas: violência do racismo estrutural e religioso. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 24, n. 1, p. 157-167, 2021. https://doi.org/10.1590/1982-0259.2021.e75331

ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Culpabilidade por vulnerabilidade. Trad. Fernanda Freixinho e Daniel Raizman. Revista Discursos Sediciosos, Rio de Janeiro, ano 9, n. 14, p. 31-48, 2004. https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=3253967

Downloads

Publicado

01.04.2025

Edição

Seção

Teoria da Prova Penal

Como Citar

Costa, L. A. O. da, & Jesus, T. A. C. de. (2025). Reconhecimento pessoal e seletividade penal: uma análise acerca da necessidade de seguir o rito previsto no Código de Processo Penal. Revista Brasileira De Direito Processual Penal, 11(1). https://doi.org/10.22197/rbdpp.v11i1.1125