Interrogatório de suspeitos: a entrevista investigativa como técnica de redução de falsas confissões induzidas por sugestionabilidade

Autori

  • Giovanna Paula Vieira Oliveira Gomes Universidade Federal de Uberlândia https://orcid.org/0009-0006-9579-7463
  • Ederaldo José Lopes Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG

DOI:

https://doi.org/10.22197/rbdpp.v11i1.1108

Parole chiave:

falsas confissões; sugestionabilidade; entrevista investigativa

Abstract

Falsas confissões ocorrem quando alguém confessa um crime que não cometeu. Elas podem ser voluntárias e involuntárias e decorrer de fatores relacionados a motivações pessoais ou à forma como se obtém a confissão. Confissões involuntárias podem ser induzidas por técnicas de interrogatório consideradas acusatórias, através de manipulação psicológica, como ocorre no método Reid. A presunção de culpa tende a provocar a sugestionabilidade interrogativa, principalmente com grupos mais vulneráveis, quais sejam, adolescentes e pessoas com transtorno mental ou déficit cognitivo. Isso ocasiona prejuízos em relação à obtenção de informações confiáveis, já que o conteúdo verdadeiro da memória pode ser irrecuperável com o uso de técnicas inadequadas. Diante disso, técnicas de entrevista investigativa têm sido desenvolvidas visando a mudança da mentalidade acusatória para a busca de informações, como proposto no método PEACE. Assim, questiona-se: quais aspectos da entrevista investigativa podem minimizar ou evitar a sugestionabilidade interrogativa com pessoas suspeitas de crime? Para isso, o estudo discute a abordagem acusatória de interrogatório, identificando aspectos que contribuem para a sugestionabilidade. Em seguida, analisa o método PEACE de entrevista investigativa e aponta aspectos relevantes para a redução do risco de sugestionabilidade e, consequentemente, de falsas confissões. 

Downloads

La data di download non è ancora disponibile.

Biografie autore

  • Giovanna Paula Vieira Oliveira Gomes, Universidade Federal de Uberlândia

    Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2013). Graduada em Psicologia pela Universidade Federal de Uberlândia, MG, Brasil (2023).

  • Ederaldo José Lopes, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG

    Graduação (Bacharelado e Licenciatura) em Psicologia e psicólogo pela Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto (1989), mestrado em Psicobiologia pela Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto (1992), doutorado em Psicobiologia pela Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto (1997). Pós-doutor em Filosofia da Mente e Ciências Cognitivas pela Universidade Federal de São Carlos (2003), sob supervisão do Prof. Dr. João de Fernandes Teixeira. Professor Titular do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Riferimenti bibliografici

ABREU, Debora P.; CECCONELLO, William W.; STEIN, Lilian M.; BULL, Ray. Interviewing suspects practices in Brazil. Investigative Interviewing Research & Practice, v. 12, n. 1, p. 40-52, 2022. https://iiirg.org/wp-content/uploads/2022/06/II-RP-2022-06-0_Full-Edition.pdf

ASSOCIAÇÃO PARA A PREVENÇÃO DA TORTURA. Princípios sobre Entrevistas Eficazes para Investigação e Coleta de Informações. Genebra: Autor, 2021. https://www.apt.ch/sites/default/files/publications/apt_PoEI_POR_03.pdf.

BLANCHET, Luiz R. Entrevista Investigativa: uma análise dos métodos de entrevista e interrogatório existentes perante o ordenamento jurídico brasileiro. Revista da Escola Superior da Polícia Civil. v.4, p.84-105, 2023. http://www.revistas.pr.gov.br/index.php/espc/article/view/90

BRITTO DE MELO, Henrique; PAGNUSSAT, Júlia; CECCONELLO, William W.; FAVERO, Gabriela C. A Abordagem Cognitiva Para Interrogatórios: Buscando Informações ao Invés de Confissões. Revista Brasileira de Segurança Pública, [S. l.], v. 18, n. 1, p. 14–29, 2024. DOI: 10.31060/rbsp.2024.v18.n1.1710..

CASTRO, Bruno G. de. A Garantia da Não Autoincriminação no Processo Penal Brasileiro. Virtuajus, v. 7, n. 12, p. 151–162, 2022. DOI: 10.5752/p.1678-3425.2022v7n12p151-162.

CAVALCANTE, Lívia T. C.; OLIVEIRA, Adélia A. S. de. Métodos de revisão bibliográfica nos estudos científicos. Psicol. rev., Belo Horizonte , v. 26, n. 1, p. 83-102, 2020. DOI: 10.5752/P.1678-9563.2020v26n1p82-100.

CECCONELLO, William W.; BERNARDES, Monica; STEIN, Lilian M. Existe o Efeito Pinóquio na Detecção de Mentiras? In: SAMPAIO, Denis (org.). Manual do Tribunal do Júri. 1.ed. Florianópolis: Emais. v. 1, p. 141-188, 2021.

CECCONELLO, William W.; MILNE, Rebecca; STEIN, Lilian M. Oitivas e interrogatórios baseados em evidências: considerações sobre entrevista investigativa aplicado na investigação criminal. Revista Brasileira De Direito Processual Penal, [S. l.], v. 8, n. 1, 2022. DOI: 10.22197/rbdpp.v8i1.665.

CHAPMAN, Frances. A Recipe for Wrongful Confessions: A Case Study Examining the “Reid Technique” and the Interrogation of Indigenous Suspects. Mich. St. Int'l L. Rev. , v. 28, p. 369, 2020. https://ssrn.com/abstract=3690422.

GEISELMAN, R. Edward.; FISHER, Ronald P.; David P. MacKinnon; Heidi L. Holland. Enhancement of eyewitness memory with the cognitive interview. The American Journal of Psychology, v. 99, n. 3, p. 385-401, 1986. DOI: 10.2307/1422492

GRIFFITHS, Andy.; MILNE, Rebecca. Will it all end in tiers? Police interviews with suspects in Britain. In: Investigative interviewing. Willan, p. 167-189, 2006.

DOI: 10.4324/9781843926337-11.

GUDJONSSON, Gisli H. Interrogative suggestibility and complacency. In: RIDLEY, Anne M.; GABBERT, Fiona; LA ROOY, David J. Suggestibility in Legal Contexts: Psychological Research and Forensic Implications. Wiley-Blackwell, 2013. p. 45-61. DOI: 10.1002/9781118432907.ch3

INICIATIVA DA CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA. Entrevista Investigativa Em Casos Criminais. Genebra: Autor, 2017. https://cti2024.org/wp-content/uploads/2017/01/ctitraining_tool_port_braz.pdf.

INNOCENCE PROJECT. False Confessions More Prevalent Among Teens. New York, 2013, September 9. https://bit.ly/36hBKzM.

INNOCENCE PROJECT. ‘Tough-on-Crime’ Policies Are at Odds With the Presumption of Innocence. New York, 2023 January 26. https://tinyurl.com/4jx54k9r.

JOHN E. REID AND ASSOCIATES, INC. https://reid.com/about.

JORDAN, Sarah; BRIMBAL, Laure; WALLACE, D. Brian; KASSIN, Saul M.; HARTWIG, Maria; STREET, Chris N. H. A test of the micro‐expressions training tool: Does it improve lie detection? Journal of Investigative Psychology and Offender Profiling, v. 16, n. 3, p. 222–235, 2019. DOI: 10.1002/jip.1532.

KAPLAN, Jeff; WOOLRIDGE, Lyndsay R.; SNOW, Mark D. The Psychology of Forensic Interrogations. Routledge, 2022. DOI: 10.4324/9780367198459-REPRW132-1.

KASSIN, Saul. M. False confessions and the jogger case. 2002, November 1st. The New York Times OP-ED, p. A31. https://tinyurl.com/yfrncfbc.

KASSIN, Saul. M. False confessions: Causes, consequences, and implications for reform. Policy Insights from the Behavioral and Brain Sciences, v. 1, n. 1, p. 112–121, 2014. DOI: 10.1177/2372732214548678.

KASSIN, Saul. M. Internalized false confessions. In: TOGLIA, M. P. et al. (Ed.). The handbook of eyewitness psychology, Vol. 1. Memory for events. Lawrence Erlbaum Associates Publishers, p. 169-186, 2007. https://web.williams.edu/Psychology/Faculty/Kassin/files/Kassin_07_internalized%20confessions%20ch.pdf

KASSIN, Saul. M. The psychology of confession evidence. American Psychologist, v. 52, n. 3, p. 221-233, 1997. DOI: 10.1037/0003-066X.52.3.221.

KASSIN, Saul. M. The Social Psychology of False Confessions. Social Issues and Policy Review, v. 9, n. 1, p. 25–51, 2015. DOI: 10.1111/sipr.12009.

KASSIN, Saul. M.; DRIZIN, Steven A.; GRISSO, Thomas; GUDJONSSON, Gisli H.; LEO, Richard A.; REDLICH, Allison D. Police-induced confessions, risk factors, and recommendations: Looking ahead. Law and Human Behavior, v. 34, n. 1, p. 49–52, 2010. DOI: 10.1007/s10979-010-9217-5.

KASSIN, Saul M.; GOLDSTEIN, Christine. C.; SAVITSKY, Kenneth. Behavioral confirmation in the interrogation room: On the dangers of presuming guilt. Law and Human Behavior, v. 27, n. 2, p. 187–203, 2003. DOI: 10.1023/A:1022599230598.

KOZINSKI, Wyatt. The Reid Interrogation Technique and False Confessions: A Time for Change. Seattle Journal for Social Justice, v. 16, n. 2, p. 10, 2018. https://digitalcommons.law.seattleu.edu/sjsj/vol16/iss2/10/.

LABORATÓRIO DE ENSINO E PESQUISA EM COGNIÇÃO E JUSTIÇA. Manual de Entrevista Investigativa para a Polícia Civil. Passo Fundo, RS: Autor, 2022. https://cogjus.com/wp-content/uploads/2024/01/Manual-de-Entrevista-Investigativa-CogJus.pdf.

LABORATÓRIO DE ENSINO E PESQUISA EM COGNIÇÃO E JUSTIÇA.Relatório de Impacto. Passo Fundo, RS: Autor, 2023. https://cogjus.com/wp-content/uploads/2024/07/RelatoriodeImpactoCOGJUS_2023-1.pdf

LINO, Denis; BERNARDES, Mônica; SIEROTA DOS SANTOS, Natália; CECCONELLO, William W. O Rapport como técnica para obtenção de informações em Entrevistas Investigativas. Revista Brasileira de Segurança Pública, [S. l.], v. 17, n. 2, p. 184–201, 2023. DOI: 10.31060/rbsp.2023.v17.n2.1584.

MAY, Lennart; GEWEHR, Elsa; ZIMMERMANN, Johannes.; RAIBLE, Yonna; VOLBERT, Renate. How guilty and innocent suspects perceive the police and themselves: suspect interviews in Germany. Legal and Criminological Psychology, v. 26, n. 1, p. 42–61, 2021. DOI: 10.1111/lcrp.12184.

MILNE, Rebecca J. CREST guide: the cognitive interview. Centre for Research and Evidence on Security Threats. 2016. https://crestresearch.ac.uk/resources/crest-guide-cognitive-interview/.

MOSCATELLI, Livia Y. N. Considerações sobre a confissão e o método Reid aplicado na investigação criminal. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, v. 6, n. 1, p. 361-394, 2020. DOI: 10.22197/rbdpp.v6i1.331.

NEUFELD, Carmem B.; BRUST, Priscila G.; STEIN, Lilian M. Compreendendo o fenômeno das falsas memórias. In: STEIN, Lilian M. Falsas memórias: fundamentos científicos e suas aplicações clínicas e jurídicas. Porto Alegre: Artmed, 2010.

OKOKA, Happiness; KHESWA, Jabulani G. False confessions among suspects in police custody: Implications of anxiety and perceived stress. Nurture, [S. l.], v. 18, n. 2, p. 277–287, 2024. DOI: 10.55951/nurture.v18i2.609.

OTGAAR, Henry; SCHELL‐LEUGERS; Jennifer M.; HOWE, Mark L.; VILAR, Alejandra D. L. F.; HOUBEN, Sanne T. L.; MERCKELBACH, Harald. The link between suggestibility, compliance, and false confessions: A review using experimental and field studies. Applied Cognitive Psychology, v. 35, n. 2, p. 445-455, 2021. DOI: 10.1002/acp.3788.

OWEN-KOSTELNIK, Jessica; REPPUCCI, N. Dickon; MEYER, Jessica R. Testimony and interrogation of minors: Assumptions about maturity and morality. American Psychologist, v. 61, n. 4, p. 286–304, 2006. DOI: 10.1037/0003-066x.61.4.286.

PAULO, Rui, ALBUQUERQUE, Pedro B., BULL, Ray. Entrevista de Crianças e Adolescentes em Contexto Policial e Forense: Uma Perspectiva do Desenvolvimento. Psicologia: Reflexão e Crítica. v. 28, n. 3, p. 623-631, 2015. DOI: 10.1590/1678-7153.201528321

REID, John E.; INBAU, Fred E.; BUCKLEY, Joseph P.; JAYNE, Brian C. Criminal interrogation and confessions. Burlington, Ma: Jones & Bartlett Learning, 2004.

ROCHA, Lucas R. K. S; AMARAL, Thiago B. do. A exigência da confissão no acordo de não persecução penal sob a óptica da Análise Econômica do Direito. Revista Brasileira de Ciências Criminais. v. 191. n. 30. p. 261-284. 2022. DOI: 10.54415/rbccrim.v191in.%20191.131.

ROSSMO, D. Kim. Case rethinking: A protocol for reviewing criminal investigations. Police Practice & Research: An International Journal, v. 17, n. 3, p. 212–228, 2016. DOI: 10.1080/15614263.2014.978320.

SANTOS, Marcel F. Dos. Delações premiadas e confissões falsas: a importância da interdisciplinaridade para o Direito. Dissertação de Mestrado em Ciências Jurídicas. Centro Universitário de Maringá – Unicesumar, 2018. http://rdu.unicesumar.edu.br/handle/123456789/995.

SHAW, Julia; PORTER, Stephen. Constructing rich false memories of committing crime. Psychological Science, v. 26, n. 3, p. 291–30, 2015. DOI: 10.1177/0956797614562862.

SILVA, Juliani B. L.; ÁVILA, Gustavo N. De. A delação premiada e a sua repercussão em face da psicologia do testemunho. Revista de Constitucionalização Do Direito Brasileiro, v. 3, n. 1, p. 1–15, 2020. DOI: 10.33636/reconto.v3n1.e033.

SILVA, Juliana F. Da. O plea bargain e as falsas confissões: uma discussão necessária no sistema de justiça criminal. Boletim Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, São Paulo, v. 27, n. 318, p. 8-11, 2019. https://arquivo.ibccrim.org.br/boletim_artigo/6331-O-plea-bargain-e-as-falsas-confissoes-uma-discussao-necessaria-no-sistema-de-justica-criminal.

SPIERER, Ariel. The Right to Remain a Child: The Impermissibility of the Reid Technique in Juvenile Interrogations. NYU Law Review, v. 92, p. 1719, 2017. https://www.nyulawreview.org/issues/volume-92-number-5/the-right-to-remain-a-child-the-impermissibility-of-the-reid-technique-in-juvenile-interrogations/.

VOLBERT, Renate; MAY, Lennart; HAUSAM, Joscha; LAU, Steffen. Confessions and Denials When Guilty and Innocent: Forensic Patients’ Self-Reported Behavior During Police Interviews. Frontiers in Psychiatry, v. 10, n. 168, p. 1-12, 2019. DOI: 10.3389/fpsyt.2019.00168.

VRIJ, Aldert; MEISSNER, Christian A.; FISHER, Ronald P.; KASSIN, Saul. M.; MORGAN, Charles A.; KLEINMAN, Steven M. Psychological Perspectives on Interrogation. Perspectives on Psychological Science, v. 12, n. 6, p. 927–955, 2017. DOI: 10.1177/1745691617706515.

Pubblicato

2025-02-24

Fascicolo

Sezione

Diritto delle prove penali

Come citare

Gomes, G. P. V. O., & Lopes, E. J. (2025). Interrogatório de suspeitos: a entrevista investigativa como técnica de redução de falsas confissões induzidas por sugestionabilidade. Revista Brasileira De Direito Processual Penal, 11(1). https://doi.org/10.22197/rbdpp.v11i1.1108