A vítima de crimes e o Tribunal Penal Internacional: um modelo irrefutável para o legislador interno

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22197/rbdpp.v6i3.349

Palavras-chave:

Estatuto de Roma, Participação, Proteção, Reparação, Tribunal Penal Internacional, Vítima.

Resumo

O presente trabalho pretende analisar o nível de tutela conferida à vítima pelo Estatuto de Roma, que criou o Tribunal Penal Internacional, o qual abarca tanto uma vertente substantiva como processual, tendo levado em linha de conta os Estatutos, bem como as decisões tomadas pelos Tribunais Penais Internacionais ad hoc para a ex-Jugoslávia e para o Ruanda. Sucede, porém, que estes pecavam por não preverem um verdadeiro modelo em prol da vítima, pelo que o Estatuto de Roma, conjugado com o seu Regulamento de Procedimento e Prova, veio aditar um conjunto de medidas cruciais que visam proteger as vítimas e testemunhas, dar-lhes a possibilidade de participarem no processo e, ainda, garantir a reparação. Revela-se, pois, como um paradigma a ser levado em linha de conta pelo legislador interno, independentemente de o respetivo Estado ser ou não parte deste instrumento de Direito Internacional. Concluímos que o papel desempenhado pela comunidade internacional nesta chamada de atenção para a vítima deve ser levado em linha de conta em sede interna permitindo assim, com Nils Christie, que à vítima seja devolvido um conflito que é o seu. O presente estudo emprega uma metodologia qualitativa, atendendo essencialmente à doutrina e partindo da análise da inovação trazida pelo Tribunal Penal Internacional sobre esta temática. A hipótese que nos orienta reside na assunção de que o modelo apresentado pelo Estatuto de Roma em prol das vítimas tem potencial para ser levado em consideração pelo legislador interno.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Teresa Lancry Robalo, Universidade de Macau

    Professora Auxiliar da Faculdade de Direito da Universidade de Macau. Doutora em Direito. Membro da World Society of Victimology, do European Forum for Restorative Justice, da Associação Internacional de Criminologia de Língua Portuguesa, do Victim Support Europe, da Asian Criminological Society e da European Society of Criminology. Antiga investigadora externa do extinto INTERVICT, Universidade de Tilburg, Holanda.

Referências

ACIDH. Protection des victimes devant la Cour Pénale Internationale, Lubumbashi, 2011.Disponível em http://www.iccnow.org/documents/Brochure_protection_des_victimes_et_t%E9moins_devant_la_CPI.pdf

BITTI, Gilbert. “As vítimas perante o Tribunal Penal Internacional. Participação no processo”. Actas da Conferência Internacional de Processo Penal, “Os desafios do Séc. XXI”, Macau, Centro de Estudos Jurídicos e Judiciários, 2007. p. 329-352.

BROUWER, Anne-Marie de e GROENHUIJSEN, Marc. “The role of victims in international proceedings”. International Criminal Procedure: towards a coherent body of Law, Londres: Cameron May, 2009. p. 187-203.

CHRISTIE, Nils. “Conflicts of Property”. The British Journal of Criminology, vol. 17, n.º 1, Janeiro de 1977. p. 1-15.

DIJK, Jan van e WEMMERS, Jo-Anne. “Services and rights for victims of domestic and international crimes”. s/d, p. 38, disponível em https://www.researchgate.net/publication/239842913_Victimology_Services_and_rights_for_victims_of_domestic_and_international_crimes

ESTEVES, Maria Leonor. “A vítima – da quase “invisibilidade” à obtenção de um “Estatuto”. Ou do (inevitável) caminho para a humanização da ordem jurídico-penal”. Texto apresentado na Conferência organizada pela CIIDH – Escola de Direito da Universidade do Minho, sob o tema “Novos desafios em torno da proteção da vítima: uma perspetiva multidisciplinar”, 2 de Junho de 2017.

GARKAWE, Sam. “Have recent changes designed to benefit victims of international crimes added to the legitimacy of international criminal justice?”. International Criminal Justice. Legitimacy and Coherence, Cheltenham e Northampton, Editora Edwar Elgar, 2012. p. 269-303.

GONZÁLEZ, Paulina Vega. “O papel das vítimas nos procedimentos perante o Tribunal Penal Internacional: seus direitos e as primeiras decisões do Tribunal”. Revista Internacional de Direitos Humanos, vol. 3, n.º 5, São Paulo, Dezembro 2006, p. 18-41.

GROENHUIJSEN, Marc. “Victim’s rights and the International Criminal Court: the model of the Rome Statute and its operation”. Hage Joint Conference, 2007. p. 300-315.

GROENHUIJSEN, Marc e LETSHERT, Rianne. “Reflections on the development and legal status of victim’s rights instruments”. Compilation of International Victim’s Rights Instruments, Outubro, 2006.

JERIN, Robert A. e MORIARTY, Laura J.. The Victims of Crime, New Jersey, Pearson, 2010.

KELLY, Michael J.. “The Status of Victims Under the Rome Statute of the International Criminal Court”. Victims of International Crimes: An Interdisciplinary Discourse, ed. por Thorsten Bonacker e Christoph Safferling, Haia, Springer, 2013.

LETELIER LOYOLA, Enrique. Editorial del Dossier “Medios alternativos, consensos y la participación de la víctima en el proceso penal”: Participación de la víctima en la solución del conflicto penal. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, Porto alegre, vol. 5, n. 1, p. 13-32, jan./abr. 2019. https://doi.org/10.22197/rbdpp.v5i1.224

LETSCHERT, Rianne. “International Initiatives and Activities Focusing Specifically on Victims of Terrorism, Including Existing International Instruments”. In: LETSCHERT, Rianne, STAIGER, Ines e PEMBERTON, Antony (Org.). Assisting Victims of Terrorism. , Nova Iorque: Springer, 2010. p. 31-71.

McCARTHY, Conor. Reparations and Victim Support in the International Criminal Court. Cambridge: Cambridge University Press, 2012.

MOFFETT, Luke. “Releasing Justice for victims before the International Criminal Court”. ICD Brief 6, September 2014.

PIKIS, Georghios M.. The Rome Statute for the International Criminal Court – analysis of the Statute, the Rules of Procedure and Evidence, the Regulations of the Court and supplementary instruments. Leiden, Boston: Martinus Nijhoff Publishers, 2010.

RIBOLI, Eduardo Bolsoni. Um “tribunal orientado para a vítima”: o minimalismo de Nils Christie e as suas contribuições à justiça restaurativa. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, Porto Alegre, vol. 5, n. 1, p. 253-298, jan./abr. 2019. https://doi.org/10.22197/rbdpp.v5i1.203

ROBALO, Teresa Lancry A. S.. “Vítimas de terrorismo e justiça restaurativa – análise da questão tendo a Lei n.º 3/2006 sobre a prevenção do terrorismo (Macau) em consideração”.Em vias de publicação, 2019.

ROBALO, Teresa Lancry A. S. Justiça Restaurativa. Um Caminho para a Humanização do Direito. Lisboa: Juruá, 2012.

SAAD-DINIZ, Eduardo. O lugar da vítima nas ciências criminais, São Paulo: LiberArs, 2017.

SCHABAS, William A.. An Introduction to the International Criminal Court, 4.ª edição. Cambridge: Cambridge University Press, 2011.

UNODC, E4J University modules.Disponível em https://www.unodc.org/e4j/en/crime-prevention-criminal-justice/module-11/key-issues/8--victims-of-crime-and-international-law.html

Downloads

Publicado

27.10.2020

Edição

Seção

Fundamentos de Direito Processual Penal

Como Citar

Robalo, T. L. (2020). A vítima de crimes e o Tribunal Penal Internacional: um modelo irrefutável para o legislador interno. Revista Brasileira De Direito Processual Penal, 6(3), 1417-1444. https://doi.org/10.22197/rbdpp.v6i3.349