Quando a violência doméstica bate à porta das Varas de Família: uma análise de processos com autoras que possuem medidas protetivas da Lei Maria da Penha

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22197/rbdpp.v11i3.1208

Palavras-chave:

Lei Maria da Penha, Competência Híbrida , Unicidade do Direito, Direito de Família , Acesso à Justiça

Resumo

O estudo tem por objetivo analisar dados relativos a processos judiciais em varas de família em que a autora apresenta pedido de medida protetiva em vara com competência em violência doméstica, a fim de identificar marcadores de revitimização. Buscamos compreender, também, se a não implementação da competência híbrida prevista na LMP estaria afetando a garantia de acesso à justiça. A pesquisa é qualitativa e faz uso da análise de conteúdo de dados referentes a ações judiciais em varas de família ingressadas por mulheres que apresentavam medida protetiva. Partimos da premissa de que a fragmentação da prestação jurisdicional em casos de violência doméstica pode ensejar a revitimização de mulheres nas varas de família. Isso porque, a ausência de competência ampla nas unidades judiciárias que atuam em violência doméstica e familiar conduz as mulheres a acessarem mais de uma vez o Judiciário e, com isso, estarem suscetíveis à desconsideração da violência doméstica e/ou um tratamento não especializado às demandas decorrentes de tal violência nas varas de família. Além de verificarmos a existência de indícios de revitimização nos processos analisados, o estudo permite uma reflexão sobre alguns efeitos decorrentes da ausência da competência híbrida em unidades judiciárias que atuam em casos de violência doméstica e familiar.  

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Maria Eduarda Souza Porfírio, Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

    Graduada em Direito pela Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo;  Mestranda do do Programa de Pós-Graduação em Direito da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto.

  • Fabiana Severi, Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

    Professora titular do Departamento de Direito Público da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Doutora em Psicologia pela USP, mestrado em Direito pela UNESP.

Referências

ALMEIDA, Fernanda Andrade; LIMA, Larissa Gil de. Poder Judiciário, decisão judicial e estereótipos de gênero. Revista Electrónica de Direito, v. 20, n. 3, Porto, 2019. DOI: https://doi.org/10.24840/2182-9845_2019-0003_0002.

AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli de; VASCONCELLOS, Fernanda Bestetti d. A Lei Maria da Penha e a administração judicial de conflitos de gênero: Inovação ou reforço do modelo penal tradicional? Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, v. 5, n. 4, 2012, disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=563865516001 acesso em 20 jan. 2024

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Trad. Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa edições, 1977.

BITENCOURT, Luciane Potter. A vitimização secundária de crianças e adolescentes e a violência sexual intrafamiliar. Dissertação (Mestrado), Faculdade de Direito da PUC- RS, Porto Alegre, 2007.

BRUH, Marília Meneghetti; LARA, Lutiane de. Rota crítica: a trajetória de uma mulher para romper o ciclo da violência doméstica. Revista Polis e Psique, v. 6, n. 2. Porto Alegre, 2016. DOI: https://doi.org/10.22456/2238-152x.63711.

CAMPOS, Carmen Hein; GIANEZINI, Kelly. Lei Maria da Penha: do protagonismo feminista às resistências jurídicas. Revista Juris Poiesis, v. 22, n. 28, p. 253- 269, 2019. DOI: 10.5935/2448-0517.20190013

CAMPOS, Gabriela Cortez; SEVERI, Fabiana Cristina. A competência híbrida nas varas de violência doméstica e familiar contra a mulher de Cuiabá: um estudo de caso. Revista Ius Género América Latina, [S. l.], v. 2, n. 2, 2024. DOI: https://doi.org/10.58238/igal.v2i2.42.

COOK, Rebecca J; CUSACK, Simone; DICKENS, Bernard M. La Estereotipación Poco Ética de la Mujer en la Salud Reproductiva. International Journal of Gynecology and Obstetrics, p. 255-258. Canadá, 2010.

DEBERT, Guita Grin; OLIVEIRA, Marcella Beraldo de. Os modelos conciliatórios de solução de conflitos e a “violência doméstica”. Cadernos Pagu, n. 29, p. 305–337, 2007. DOI: https://doi.org/10.1590/s0104-83332007000200013.

EPSTEIN, Lee; KING, Gary. Pesquisa empírica em direito: as regras de inferência (Título Original: The rules of inference), Direito GV, São Paulo, 2013.

FERREIRA, Versalhes Enos Nunes. A competência cumulativa cível e criminal das Varas de Violência de Gênero: a jurisprudência do superior tribunal de justiça e a posição do tribunal de justiça do Pará. REJU- Revista Jurídica, v. 6, n. 1, Santa Cruz do Rio Pardo, 2018. Disponível em: https://fasc.com.br/reju/index.php/revista-juRidica/article/view/5, acesso em 20 jan. 2025.

HUNTER, Rosemary; McGLYNN, Clare; RACKLEY, Erika. Feminist Judgments: from theory to practice. Oxford, Hart, 2010.

MARDEGAN, Alexssandra Muniz. Injustiça epistêmica: a prova testemunhal e o preconceito identitário no julgamento de crimes contra a mulher. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, v. 9, n. 1, p. 65-100, Porto Alegre, 2023. DOI: https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i1.788

MENDES, Emerson da Silva; ALMEIDA, Thiago Trindade de; ALMEIDA, Ceila Sales de. A guarda compartilhada em contexto de violência doméstica e familiar: breve análise à luz do filme “Jusqu’à la garde.” Revista da Defensoria Pública do Distrito Federal, v. 4, n. 2, 2022. DOI: https://doi.org/10.29327/2193997.4.2-2.

NEVES, Ana Paula de Castro; LIMA, Angelita Pereira de. A violência simbólica de mulheres pelas narrativas policiais e narrativas. Vozes e Diálogos, v. 20, n. 1. Itajaí, 2021. DOI: https://doi.org/10.14210/vd.v20n1.p21-40.

OLIVEIRA, André Luiz Pereira de. “SE VOCÊ FICAR COM NOSSOS FILHOS, EU TE MATO!” Violência doméstica e familiar contra a mulher e as disputas de guarda de filhos/as em trâmite nas Varas de Família de Ceilândia/DF. Dissertação (Mestrado), Faculdade de Direito da Universidade de Brasília, Brasília, 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.26512/2015.02.D.18401

OLIVEIRA, Eliza Rezende. A permanência de uma justiça transitória: o conflito de gênero no universo das varas criminais. Revista do Laboratório de Estudos da Violência da UNESP/Marília, Marília, 2013, disponível em: http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/levs/article/viewFile/3005/2289. Acesso em 20 jan. 2024.

ORTEGA, Danilo Martins; SOUZA, Paula Sant’Anna Machado de. A ausência de competência híbrida real nos juizados especiais de violência doméstica e familiar. Cadernos da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, v. 1, n. 2, p. 38-45, São Paulo, 2017, ISBN 978-85-92898-02-1.

PARIZOTTO, Natália Regina. Violência Doméstica de Gênero: desafios para seu enfrentamento no poder Judiciário. [SYN]THESIS, v. 9, n. 1, p. 29-39, Rio de Janeiro, 2016. DOI: https://doi.org/10.12957/synthesis.2016.42203.

PARIZOTTO, Natália Regina. Violência doméstica de gênero e mediação de conflitos: A reatualização do conservadorismo. Serviço Social & Sociedade, n. 132, p. 287–305, 2018, DOI: https://doi.org/10.1590/0101-6628.142.

PASINATO, W. Lei Maria da Penha: Novas abordagens sobre velhas propostas. Onde avançamos? Civitas- Revista de Ciências Sociais; v. 10, n. 2, p. 216-232, 2010, DOI: https://doi.org/10.15448/1984-7289.2010.2.6484.

PASINATO, Wânia. Avanços e obstáculos na implementação da Lei 11.340/2006. In: CAMPOS, Carmen Hein de (Org.). Lei Maria da Penha comentada em uma perspectiva jurídico-feminista, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2011, p. 119-142.

PASINATO, Wânia; CRUZ, Rubia Abs da; VIEIRA, Sinara Gumieri. Lei Maria da Penha: discussão sobre aspectos cíveis. In: Severi, F. C.; Castilho, E. W. V. de e Matos, M. C. de (Org.). Tecendo os Fios das Críticas Feministas do Direito no Brasil. Ribeirão Preto: FDRP/USP, 2019.

PORFIRIO, Maria Eduarda Souza; SEVERI, Fabiana, 2025, "Dados de replicação para: Quando a violência doméstica bate à porta das Varas de Família: uma análise de processos com autoras que possuem medidas protetivas da Lei Maria da Penha". SciELO Data, V1, 2025. https://doi.org/10.48331/SCIELODATA.XSPXTT

SAFFIOTI, Heleieth. Gênero, patriarcado, violência. Fundação Perseu Abramo, São Paulo, 2004.

SEVERI, Fabiana Cristina. Justiça em uma perspectiva de gênero: elementos teóricos, normativos e metodológicos. Revista Digital de Direito Administrativo, v. 3, n. 3, p. 574-601, 2016. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2319-0558.v3i3p574-601.

SIMIONI, Fabiane. Justiça de gênero: estudo de caso sobre conflitos familiares judicializados em Porto Alegre/RS. Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women 's World Congress. Florianópolis, 2017.

SOUZA, Fábio Rocha de. Alienação parental e violência de gênero: uma análise sociojurídica da lei 12.318/10. Dissertação (mestrado) - Programa de pós graduação em Ciências Sociais, PUCRS, Porto Alegre, 2021.

SPINELLI, Ana Carolina Longhini. Aspectos não penais da Lei Maria da Penha: a indenização das vítimas de violência doméstica no âmbito Cível. Trabalho de Conclusão de Curso. Direito FGV, São Paulo, 2020.

THURLER, Ana Liési. Violência doméstica e guarda compartilhada: uma oposição inconciliável. In: FERREIRA, Cláudia Galiberne e ENZWEILER, Romano José (org.). A Invisibilidade de Crianças e Mulheres Vítimas da Perversidade da Lei de Alienação Parental. Pedofilia, Violência e Barbarismo. Conceito Editorial, Florianópolis, 2019, p. 33-56.

Downloads

Publicado

04.11.2025

Declaração de Disponibilidade de Dados

In compliance with open science policies, the dataset of this article is available in an open repository at the following link: https://doi.org/10.48331/SCIELODATA.XSPXTT.

Edição

Seção

Persecução penal: investigação, juízo oral e etapa recursal

Como Citar

Porfírio, M. E. S., & Severi, F. C. (2025). Quando a violência doméstica bate à porta das Varas de Família: uma análise de processos com autoras que possuem medidas protetivas da Lei Maria da Penha. Revista Brasileira De Direito Processual Penal, 11(3). https://doi.org/10.22197/rbdpp.v11i3.1208