Intersecções entre o Eficientismo Processual Penal e o Neoliberalismo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22197/rbdpp.v10i1.873

Palavras-chave:

eficientismo, razão neoliberal, autoritarismo, CNJ, decisão judicial

Resumo

Trata-se de artigo que visa abordar as relações metajurídicas entre a gestão da velocidade do processo penal e os constrangimentos sociais oriundos da razão neoliberal. Para tal, partiu-se da premissa instituída por Foucault e aprofundada por Dardot e Laval de que o neoliberalismo se arraigou socialmente ao ponto de se transmutar de um simples modelo econômico a uma racionalidade que se espalha para os mais diversos campos sociais. O trabalho é guiado pela pergunta: há efeitos deletérios para além da perda da qualidade da motivação das decisões com a adoção da lógica eficientista pelo juiz penal? O objetivo é verificar se os princípios de gestão dessa razão podem ser perniciosos ao bom funcionamento do processo penal. É pesquisa de cunho exploratório, de cariz interdisciplinar, calcada em referencial bibliográfico, exclusivamente. Ao cabo, conclui-se que não há condições de se intensificar o ritmo do processo penal sem haver uma perda de qualidade não só técnica, mas também democrática, visto que o aceleramento desprovido de outras medidas acaba por catalisar coágulos autoritários nunca completamente expurgados do sistema processual penal brasileiro.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Marcos Eugênio Vieira Melo, Faculdade Delmiro Gouveia – Maceió, Alagoas

    Doutorando em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), com bolsa CAPES. Mestre em Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com bolsa CAPES. Pós-graduado em Processo Penal pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM) e Faculdade de Direito de Coimbra. Professor da Faculdade Delmiro Gouveia (FDG) e Faculdade Raimundo Marinho Maceió (FRM).

  • André Rocha Sampaio, Centro Universitário Tiradentes – Maceió, Alagoas

    Doutor em Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Bolsista CAPES. Mestre em Direito Público pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Professor do Centro Universitário Tiradentes (UNIT/AL). Coordenador do Grupo de Pesquisa Biopolítica e Processo Penal. Advogado.

Referências

ABATH, Manuela. Julgando a liberdade em linha de montagem: uma observação etnográfica dos julgamentos dos habeas corpus nas sessões das câmaras criminais do TJPE. Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 116/2015, p. 207-238, set. – out., 2015.

ADORNO, Sérgio; PASINATO, Wânia. A justiça no tempo, o tempo da justiça, pp. 131-155. Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 19, n. 2.

ALMEIDA, Silvio Luiz de. Necropolítica e Neoliberalismo. Caderno CRH, Salvador, v. 34, p. 1-10, 2021.

ALMEIDA, Leonardo Monteiro Crespo de. A Selvagem Criação do Direito – Um Diálogo Imaginário entre Luis Alberto Warat e Deleuze/ Guattari sobre a Semiótica Jurídica. Seqüência (Florianópolis), n. 83, p. 96-121, dez. 2019.

ANDRADE, Daniel Pereira. O que é neoliberalismo? A renovação do debate nas ciências sociais, Revista Sociedade e Estado – Volume 34, Número 1, Janeiro/Abril 2019.

ANDRADE, Daniel Pereira. Neoliberalismo e Guerra ao Inimigo Interno: da Nova República à virada autoritária no Brasil. Caderno CRH, Salvador, v. 34, p. 1-34, 2021.

ANDRADE, Daniel Pereira; CORTÊS, Mariana; ALMEIDA, Silvio. Neoliberalismo autoritário no Brasil. Caderno CRH, Salvador, v. 34, p. 1-26, 2021.

ANDRADE, Fábio Martins de. Reforma do Poder Judiciário: Aspectos gerais, o sistema de controle de constitucionalidade e a regulamentação da súmula vinculante, Revista de Informação Legislativa, Brasília a. 43 n. 171 jul./set. 2006.

BALLESTEROS, Paula Karina Rodriguez. Conselho Nacional de Justiça e gerencialismo penal no Brasil o poder punitivo sob a lógica da administração da justiça. Brasília: UNB, 2019. 249 f. Tese (Doutorado Direito, Estado e Constituição) Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade de Brasília, Linha de pesquisa: Sociedade, Conflito e Movimentos Sociais, UNB, 2019.

BECKER G. S. Crime and punishment: an economic approach. Journal of Political Economy, v. 76, p. 169 - 217, 1968.

BLYTH, Mark. Austeridade: a história de uma ideia perigosa. Trad. José Antônio Freitas e Silva. São Paulo: Autonomia Literária, 2017.

BOBBIO, Norberto. Teoria da norma jurídica. Bauru, SP: EDIPRO, 2a ed. revista, 2003.

BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINI, Gianfranco. Dicionário de política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1., 1998.

BROWN, Wendy. Nas ruínas do neoliberalismo: a ascensão da política antidemocrática no ocidente. Trad. Mario A. Marino e EduardoAltheman C. Santos. São Paulo: Editora Filosófica Politeia, 2019.

CASARA, Rubens R. R. Mitologia Processual Penal. São Paulo: Saraiva, 2015.

CASARA, Rubens. Contra a Miséria Neoliberal: racionalidade, normatividade e imaginário. São Paulo: Autonomia Literaria, 2021.

CHAMAYOU, Grégoire. A Sociedade Ingovernável: uma genealogia do liberalismo autoritário. Trad. Letícia Mei. São Paulo: Ubu Editora, 2020.

CHOMSKY, Noam (2006). O lucro ou as pessoas? Neoliberalismo e a ordem global. 5.ed. Trad. Pedro Jorgensen Jr. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

CUNHA JR., Dirley. Curso de direito constitucional. Salvador: Jus Podium, 2008.

DARDOT, Pierre [et. al.]. A escolha da guerra civil: uma outra história do neoliberalismo. Trad. Márcia Pereira Cunha. São Paulo: Elefante, 2021.

DARDOT, Pierre; LAVAL Christian. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. Trad. Mariana Echalar. São Paulo: Boitempo, 2016.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia 2, vol. 2. Trad. Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão. São Paulo: Ed. 34, 1995.

ELIAS, N. O processo civilizador: formação do estado e civilização. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1993. v. 2.

FOUCAULT, M. Vigiar e punir: o nascimento da prisão. Trad. Raquel Ramalhete. Petrópolis: Editora Vozes, 2014.

FOUCAULT, Michel. Nascimento da biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

FOUCALT, Michel. Em Defesa da Sociedade: curso no Collège de France (1975-1976). Trad. Maria Ermanita Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

FOUCAULT, M. Gerir os Ilegalismos [1975]. In: POLDROIT, R. Michel Foucault: Entrevistas. Trad. Vera Portocarrero e Gilda Gomes Carneiro. São Paulo: Edições Graal, 2006.

FRAGOSO, Christiano Falk. Autoritarismo e sistema penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2015.

GARAPON, Antoine. Del giudicare: saggio sul rituale giudiziario. Trad. Daniela Bifulco. Milano: Raffaello Cortina Editore, 2007.

GARAPON, Antoine. O juiz e a democracia: o guardião das promessas. Trad. Maria Luiza de Carvalho. 2. Ed. Rio de Janeiro: Revan, 1999.

GARAPON, Antoine. Um novo modelo de justiça: eficiência, atores racionais, segurança. Tradução: Jânia Maria Lopes Saldanha. Revista Espirit, [S.l.], n. 349, nov. 2008.

GLOECKNER, Ricardo Jacobsen. Autoritarismo e processo penal: uma genealogia das ideias autoritárias no processo penal brasileiro, v. 1. Florianópolis: Tirant lo blanch, 2018.

GLOECKNER, Ricardo Jacobsen. Neoliberalismo, a Contrarrevolução Permanente: Um Estado forte para uma economia livre. São Paulo. Tirant lo Blanch, 2023

GOMES FILHO, Antonio Magalhães. A motivação das decisões penais. 2. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.

HAFT, Fritjof. Direito e linguagem. In: KAUFMANN, Arthur; HASSEMER, Winfried. (org.). Introdução à filosofia do direito e à teoria do direito contemporâneas. Lisboa: Função Calouste Gulbenkian, 2002.

HAN, Byung-Chul. Psicopolítica: o neoliberalismo e as novas técnicas de poder. Tradução de Maurício Liesen. Belo Horizonte: Editora Ayiné, 2018.

HARVEY, David. O neoliberalismo: história e implicações. Trad. Adail Sobral e Maria Stela Gonçalves. São Paulo: Edições Loyola, 2008.

HAYEK, Friederick. Direito, Legislação e Liberdade. Uma nova formulação dos princípios liberais de justiça e economia política. Trad. Ana Maria Copovilla. São Paulo: Visão, 1985.

HAYEK, F. A. Extracts from an Interview with Friedrich Von Hayek (Jornal El Mercurio, Chile, 1981). Disponível em https://puntodevistaeconomico.com/2016/12/21/extracts-from-an-interview-with-friedrich-von-hayek-el-mercurio-chile-1981/ . Acesso em 12.jan.2023.

IBÁÑEZ, Perfecto Andrés. Valoração da prova e sentença penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.

IZUZQUIZA, Ignacio. La sociedad sin hombres: Niklas Luhmann o la teoria como escândalo. Barcelona: Anthropos, 1990.

KAFKA, Franz. A colônia penal. Editora Livraria Exposição do livro. São Paulo. 1965.

KAUFMANN, A.; HASSEMER, W. (Org.). Introdução à Filosofia do Direito e à Teoria do Direito Contemporâneas. Trad. Marcos Keel (Capítulos. 1-5 e 9) e Manuel Seca de Oliveira (Capítulos 6-8 e 10-15). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2002.

LAVAL, Christian. Foucault, Bourdieu e a questão neoliberal. Trad. Márcia Pereira Cunha e Nilton Ken Ota. São Paulo: Elefante, 2020.

LUHMANN, Niklas. I diritti fondamentali come istituzione. Bari: Dedalo, 2002.

LUHMANN, Niklas; DE GIORGI, Rafaele. Teoria della società. Milano: Franco Angeli, 2003.

MARCELLINO JUNIOR, Julio Cesar. O modelo mítico do 'estado eficiente' e a denegação judicial: a capacidade de resistência através do ato de julgar. Revista Eletrônica Direito e Política, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.3, n.3, 30 quadrimestre de 2008

MBEMBE, Achille. Necropolítica. 3. ed. São Paulo: n-1 edições, 2018.

MELO, Marcos Eugênio Vieira. Cultura da oralidade como técnica de efetivação do procedimento em contraditório e superação da tradição inquisitória. Dissertação (Mestrado em Ciências Criminais) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre, 2019.

MOURA, Marcelo Oliveira de; MORAIS, Jose Luis Bolzan de. O neoliberalismo “eficientista” e as transformações da jurisdição. Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, vol. 13, n. 1, p. 177-195, Jan.-Abr. 2017.

NUNES Jr., Amandino Teixeira. A Constituição de 1988 e a judicialização da política no Brasil, Revista de Informação Legislativa, Brasília a. 45 n. 178, abr./jun. 2008.

POZZEBON, Fabrício. A crise do conhecimento moderno e a motivação das decisões judiciais como garantia fundamental. GAUER, Ruth Maria Chittó (Coord.). Sistema penal e violência. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.

PRADO, Caio Fernando Ponczek. Processo penal e mentalidade inquisitória: das vozes do pretérito que ecoam no presente. COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda; DE PAULA, Leonardo Costa; SILVEIRA, Marco Aurélio da (org). Mentalidade inquisitória e processo pena no Brasil: diálogos sobre processo penal entre Brasil e Itália, vol. 2. Florianópolis: Empório do Direito, 2017.

RECONDO, Felipe. Tanques e togas: o STF durante a ditadura. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

REINHOUDT, Jurgen; AUDIER, Serge. The Walter Lippmann Colloquium: the birth of neo liberalism. London: Palgrave Macmillan, 2018.

SAFATLE, Vladimir; SILVA JÚNIOR, Nelson da; DUNKER, Christian. (Orgs). Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico. Belo Horizonte: Autêntica, 2020.

SANTOS, Ismael Andrade. Linguagem e poder: contribuições de Deleuze e Fairclough Griot: Revista de Filosofia, vol. 10, núm. 2, pp. 84-105, 2014, disponível em < https://www.redalyc.org/journal/5766/576664779005/html>

STRECK, Lenio. O que é isto: decido conforme minha consciência? Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010.

VARGAS, Joana Domingues et al. Tempo da Justiça: metodologia de tratamento do tempo e da morosidade processual na Justiça Criminal. In: Segurança, Justiça e Cidadania. Brasília: Secretaria Nacional de Segurança Pública, Ministério da Justiça, 2010.

WACQUANT, L. Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Revan, 2007.

WARAT, Luis Alberto. Introdução Geral ao Direito I: interpretação das Leis – temas para uma Reformulação. 2. ed. Porto Alegre: SAFE, 1995.

WARAT, Luis Alberto. O direito e sua linguagem. Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris Editor, s/a.

WEBER, Max. Economia e sociedade. Brasília: Universidade de Brasília, 1999.

ZAFFARONI, Eugenio Raul. Em busca das penas perdidas: a perda de legitimidade do sistema penal. Trad. Vânia Romano Pedrosa e Amir Lopez da Conceição. Rio de Janeiro: Revan, 1991.

ZAFFARONI, Eugênio Raúl; SLOKAR, Alejandro; BATISTA, Nilo. Direito penal brasileiro: teoria geral do direito penal, vol. 1. Rio de Janeiro: Ed. Revan, 2003, p. 43.

ZIZEK, Slavoj (org.). Um mapa da ideologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.

Downloads

Publicado

27.03.2024

Edição

Seção

Processo Penal em perspectiva interdisciplinar

Como Citar

Melo, M. E. V., & Rocha Sampaio, A. (2024). Intersecções entre o Eficientismo Processual Penal e o Neoliberalismo. Revista Brasileira De Direito Processual Penal, 10(1). https://doi.org/10.22197/rbdpp.v10i1.873